Tendência assumidamente nostálgica de criar aves cresce em São Paulo, seguido exemplo de outros países
(...) Criadas no quintal, no rústico galinheiro de madeira, nos fundos da casa da avó, da tia, dos pais no interior. Criadas no sítio. E agora, de forma tímida mas com crescimento constante, dentro de grandes capitais. Em São Paulo, o número de pontos cresce. Cláudia mantém galinhas em casa como passatempo, Adilson precisa delas para lembrar da terrinha, Ana Maria as vê como terapia. E a Associação Brasileira de Criadores de Aves (ABC Aves) informa que, na capital, a venda de casais ou ternos (duas galinhas, um galo) para a criação doméstica nunca foi tão grande -- 780 entre janeiro e outubro, enquanto, cinco anos atrás, o número não passou de 312.
Algo modesto, em comparação com os 2,5 milhões de cães e gatos mantidos em residências na capital. Mas criar galinhas, acredite, é tendência em diversos países ocidentais. Nos Estados Unidos, há dezenas de livros sobre o tema, além de cinco fóruns na internet (no site backyardchickens.com), nos quais 40 mil membros trocam experiências. Na Europa, somente em 2009, foram vendidos 240 mil Eglus -- viveiros coloridos de design moderno, criados especificamente para abrigar galinhas de quintal, número que triplica a cada ano desde o lançamento em 2004, quando foram vendidas mil unidades.
No Brasil, até aqui, o que há são manuais de criação doméstica, elaborados por universidades. "Com o inchaço populacional, os criadores domésticos devem se estabelecer em municípios próximos das grandes cidades, pontos procurados pela tranquilidade e possibilidade de quintais maiores" afirma o presidente da ABC Aves, João Germano de Almeida. "É o perfil que identificamos, com crescimento ligado à difusão da dieta naturalista, que prega criar ou plantar o que se consome".
O hábito, classificado em terras americanas como "estranho eco-hábito, em movimento por toda a América do Norte", também é explicado por psicólogos como um reencontro. Além do sonho de uma casa no campo, o cidadão quer hábitos do capo. "Vivências pregressas definem as escolhas das formas de escape da pessoa, que lembra de momentos simples, recordando a infância, os avós ou imagens de livros", diz a psicóloga Hannelore Fuchs, especialista em relação homem-animal.
Fonte: O Estado de São Paulo / Caderno Metrópole / 15 de Novembro de 2009